quarta-feira, 24 de agosto de 2005

Anita em... Entrevidos

A cidade grande parece encurtar os espaços reservados às crianças. O número de praças ou lugares onde elas possam correr, pular, brincar de pique-pega, esconde-esconde e soltar pipas estão cada vez mais escassos. Hoje, elas ficam trancadas dentro dos apartamentos, olhando o movimento da rua e a poluição pelo vidro da janela, ou presas nos minúsculos parquinhos dos condomínios, enchendo o saco dos adultos com seus gritos estridentes. E para fugir dessa rotina, algumas crianças arrumam maneiras de não se sentirem tão sozinhas e longe da natureza.

Certo dia, Anita trouxe para casa um pequeno cachorrinho que havia encontrado no parquinho de 16m² do condomínio. "Fique quietinho, Didi. Ou você quer que a Eudenice ouça a gente?". Tão rápida quanto o menino Flecha, aquele dos Incríveis, correu até seu quarto, sem que a babá os visse. "Pronto Didi. Fique aqui no meu guarda-roupas. Em silêncio!! Vou buscar alguma coisa pra você comer. Mais tarde falaremos com a mamãe. Tenho certeza que ela vai adorar ter um cachorrinho lindo como você".
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- Nem Pensar!!
- Por que não?
- Porque um apartamento não é lugar para um cachorro morar.
- Como não? A Dona Mariquinha, do 708, tem três. Oras, qual o problema de termos um?
- A Dona Mariquinha tem três, é verdade. Mas o síndico já está providenciando a retirada desses animais. Pois eles são muitos barulhentos. Além do mais, eles fazem muita sujeira, nos dão muitos gastos e roem tudo o que vêem pela frente. Por isso, não podemos ter um.
- Mas o síndico não vai saber. Eu prometo! O Didi não vai dar tanto trabalho. Olha como ele é quietinho?
- Didi. Largue o chinelo do papai!! Pare de correr sobre o sofá!!! Não! Não suba em cima da mesinha!!!
- Hehehe... Viu?
- Ahã. Por isso mesmo não queremos um cachorro dentro de casa.
- Eu vou falar com o papai. Ele vai adorar ficar com o Didi. Ele mesmo já me falou que tinha um cachorrinho quando era criança.
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- Aaaaaaatchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmm!
- Então? O que acha?
- Tira esse ani..., ani..., aaaatchiim! Esse animal daqui!!!! Aatchim!
- Mas por quê??
- Porque aaaaaaaaaatchim! Eu tenho alergia a pelo de animais!
- Você disse que tinha um cachorro quando era criança!
- Mas isso foi antes da minha primeira crise alér..., alér.... aatchim! Alérgica. Já falei para tirar esse bicho fedorento daqui!!
- Fedorento não! Eu dei banho nele.
- Anita, coloque-o na varanda enquanto conversa com seu pai, por favor.
- Tá bom... Isso!! Vamos deixá-lo na varanda?
- NÃO!!!
- Anita, minha filha. Nosso apartamento é muito pequeno para termos um animalzinho como o Didi. Que tal se você escolhesse um outro? Que não solte pelos, de preferência.
- Mas pai, o Didi é tão bonitinho. Eu gosto tanto dele.
- Eu sei que você gosta. Mas enquanto ele estiver aqui, o papai não ficará bem.
- Você já é uma mocinha, é claro que entende seu pai, não é querida?
- Tá bom! Mas eu vou querer outro bichinho.
- Pode escolher o que você quiser. Amanhã levamos o Didi para um canil, e compramos outro bichinho. Qual você vai querer?
- Eu quero um... Um pato!
- Pato? Mas, por que um... Pato?
- Porque os patos são fofos, não fazem muito barulho e não soltam pelos.
- Não, não. Patos fazem barulho sim! Além disso, são muito nojentos. E depois, não temos um lago aqui. Onde ele vai nadar?
- É verdade. Então eu quero uma... Como é mesmo o nome? Uma i... i... Iguana! Igual a da Carol.
- Uma iguana?? Eu havia pensado em um peixinho??
- Você disse que eu poderia escolher "o que eu quisesse, desde que não soltasse pelos"!
- Disse sim. E quis dizer também "que seja pequenino, barato, limpinho e silencioso".

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- E aí? Como foi?
- É.
- É? É o quê?
- É um peixinho. Sonso, colorido, pequeno, e chato.
- É chato, mas não solta pelos.
- E também não corre atrás da bolinha.
- E nem arranha os móveis, nem sobe no sofá... Você já deu um nome pra ele?
- É ela.
- Ah... é ela? Que bom... Como vai se chamar?
- Judite.
- Judite...Que nome lindo!
- Viu? Não disse que sua mãe ia gostar? Agora vai, leva a Judite para passear. Mostre a casa para ela.
- De que adianta? Ela não vai sair daqui de dentro mesmo?
- Mas ela vai ficar observando tudo daí de dentro do aquário.
- Isso me parece familiar.
- Como assim, filha?
- Acho que sei exatamente como a Judite se sente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá!!
:P
tô passando só pra deixar um oizinhooo!
ah, naum tive paciência de ler isso td naum...
auheuaheuha
bjokas!